29 de ago. de 2009

Com a palavra, Rogério Ceni

Fato 1: a Portuguesa entra em campo no gramado do Canindé contra o Vila Nova para tentar reverter o fardo de ter sofrido quatro derrotas nos últimos cindo jogos. Ocupando uma posição intermediária na tabela, que também podemos chamar de limbo, já que não dá direito nem à sonhada classificação para o retorno à elite do futebol brasileiro tampouco representa risco de rebaixamento, o time tinha a obrigação de vencer, pois estava jogando em casa diante de sua (quase nula) torcida.

Fato 2: o Vila Nova mostrou que não estava para brincadeira e engrossou pra cima da Portuguesa, ganhando a partida pelo placar de 2 a 1, conseguindo fora de casa um resultado de extrema importância.

Fato 3: O time da Portuguesa sai de campo derrotado sob os gritos de "timinho" vindos de sua torcida (achei que os torcedores da Lusa já estivessem mais que acostumados em verem seu time perder).

Fato 4: O então técnico da Portuguesa, René Simões, revela em entrevista coletiva que um conselheiro do time, Antônio José Vaz Pinto, conhecido como Toninho da Divena, invade (ou pelo menos entra com conivência de quem deveria impedir seu acesso) o vestiário do clube acompanhado de dois seguranças armados para intimidar os jogadores. A Portuguesa mostra que não é um clube de verdade, já que isso é coisa de time de várzea. Na mesma entrevista, René Simões denunciou que os atletas da Portuguesa recebem telefonemas anônimos com ameaças contra sua integridade física e de seus familiares.

Fato 5: Transtornados com o incidente, alguns jogadores, como o meia Edno, declararam não ter mais condições de continuar com o time (ou seja, se a Portuguesa achava que tinha alguma chance, agora ela foi por água abaixo).

Diante desses fatos, encontrei uma única pessoa que se manifestou de maneira lúcida em relação a esse lamentável episódio: o goleiro do Bambi Futebol Clube (também conhecido por alguns como São Paulo), Rogério Ceni. Em uma entrevista coletiva, ele condenou corajosamente a covarde tentativa de intimidação aos jogadores da Lusa, bem como reiterou a já conhecida e não menos lamentável inversão de valores na sociedade, que se mobiliza para bater em jogadores de futebol que estão fazendo seu trabalho e demonstra inércia e apatia diante de todos os escândalos envolvendo políticos.

Transcrevo aqui as palavras dele, retirada de uma matéria do site Gazeta Press sobre o ocorrido: "Isso é lamentável. Não sei porque essas pessoas não vão ao Senado protestar contra a política brasileira. Reúne todo mundo lá na frente do Palácio do Planalto. Futebol envolve paixão, mas é entretenimento. Isso foi um absurdo. Há uma inversão de valores inaceitável na sociedade. Os brasileiros não se revoltam com coisas que acontecem com dinheiro do bolso deles. Agora, quando o time perde em casa, ameaçam os jogadores. Que crime o jogador cometeu? Apenas não ganhou um jogo. Se tivéssemos a mesma bravura para combater político corrupto, teríamos um país melhor."

Para quem se interessar, temos o vídeo abaixo:

http://esporte.uol.com.br/ultimas/multi/2009/08/27/04023070C4911366.jhtm

Num país tão carente de pessoas públicas que se manifestem de maneira contundente em relação aos acontecimentos lamentáveis que permeiam nossa classe política, as palavras do goleiro do São Paulo são muito bem-vindas. Se outros jogadores tivessem a mesma coragem de condenarem publicamente acontecimentos desse gênero, quem sabe poderíamos ter nossas esperanças aumentadas.

Parabéns, Rogério Ceni! É assim que se faz! Mas eu ainda digo que seu time é um time de boiolas! Bambi!