7 de fev. de 2009

O maior evento da Terra


Os americanos sabem mesmo como realizar um evento de grande porte. E o evento mais esperado por aquelas bandas é o Superbowl, ou seja, a final da NFL, a liga americana de futebol americano, o esporte mais popular daquele país. Para ter uma idéia da grandiosidade, das dez maiores audiências da história da televisão americana, todas são partidas do Superbowl. O intervalo comercial de 30 segundos tem um preço estimado entre 2,5 e 3 milhões de dólares.

No dia 01 de fevereiro aconteceu o Superbowl XLIII (43, para os que faltaram nas aulas de matemática sobre algarismos romanos) na cidade de Tampa Bay. De um lado, o campeão da AFC, o Pittsburgh Steelers, com uma das melhores defesas da NFL, comandado pelo quarterback Ben Roethlisberger (vai ter nome complicado assim lá em Tampa) no ataque. Do outro, um estreante que nunca havia chegado à uma final de Superbowl, o Arizona Cardinals, com seu ataque fulminante composto pelo veterano quarterback Kurt Warner e, talvez, o melhor wide-receiver da NFL, Larry Fitzgerald.

Estádio Raymond James lotado para o Superbowl XLIII
(fonte: Sports Illustrated)

Para nós, brasileiros, também foi um evento histórico, pois, pela primeira vez, a ESPN Brasil enviou uma equipe brasileira para uma cobertura ao vivo in loco, resultado direto do aumento de fãs deste esporte aqui no Brasil. Everaldo Marques (narração), Paulo Antunes (comentários) e André Kfouri (reportagens) simplesmente fizeram uma transmissão excelente. O blog sobre o jogo registrou mais de 12 mil comentários.

A super-equipe da ESPN: André Kfouri,
Everaldo Marques e Paulo Antunes

Mas o Superbowl não é apenas uma final de campeonato, é um espetáculo desde o princípio até o final. Dentre outras coisas, tivemos uma homenagem ao piloto Chesley Sullenberger, que conseguiu pousar um Airbus 320 no rio Hudson em New York, e toda a sua tripulação, salvando assim a vida de todos os 155 passageiros que estavam a bordo nesse vôo. Tivemos também a apresentação da banda marcial, uma tradição dos jogos universitários de futebol americano. e a cantora Faith Hill interpretando "America The Beautiful". E por fim, mostrando o quanto são patrióticos, Jennifer Hudson cantou magistralmente o hino americano (e aqui no Brasil colocam Gal Costa pra cantar... humpf), cujo final teve um vôo da esquadrilha da fumaça sobre o estádio.

Willie Parker corre para o primeiro TD do jogo
(fonte: Sports Illustrated)

A torcida era amplamente favorável ao Pittsburgh, já que a maior parte das arquibancadas era dominada pelas toalhas terríveeis (terrible towels). Até o presidente Barrack Obama apostava numa vitória dos Steelers.

Dito isso, vamos ao jogo. Após a devolução de bola dos Cardinals, os Steelers tiveram a primeira campanha de ataque do jogo. Comandado por Ben Roethlisberger (Big Ben), foram nada menos que quatro first down seguidos para o ataque dos Steelers, que ficaram próximos de um touchdown. O próprio quarterback correu para a end zone do Cardinals para marcar os primeiros seis pontos do jogo, mas o TD foi anulado após um desafio à decisão da arbitragem feito por Ken Wisenhunt, técnico do time de Arizona. Ao final dessa campanha, o Steelers ficou com apenas 3 pontos de um field goal.

Os Cardinals bem que tentaram fazer prevalecer o seu ataque, mas foram parados pela forte defesa dos Steelers, que deixou o ataque em ótima posição para marcar o touchdown, o que aconteceu de fato no início segundo quarto. Variando entre Hines Ward e Santoni Holmes, Big Ben ajudou o time a abrir 10 a 0 contra os Cardinals. A partir daí, parecia que o jogo estava definido.

Anquan Boldin coloca os Cardinals na cara do gol
(fonte: Sports Illustrated)

Eis que o time de Arizona finalmente descobriu que estava jogando um Superbowl e resolveu acordar. Kurt Warner achou Acquain Bold livre parar correr até a linha das 5 jardas, contribuindo para o touchdown que aconteceria no lance seguinte com uma recepção de Ben Patrick. Com um bom momento no jogo, os Cardinals pararam o ataque do Steelers e conseguiram um ótimo retorno de mais de 30 jardas de Steve Breaston.

Ben Patrick recebe para o primeiro touchdown do Arizona
(fonte: Sports Illustrated)

James Harrison, o jogador defensivo do ano, intercepta um passe
de Kurt Warner
(fonte: Sports Illustrated)

Quando já estava batendo na porta da end zone dos Steelers, Kurt Warner teve seu passe interceptado por James Harisson – o Defensive Player Of The Year –, que, em meio a tropeços, correu incríveis 100 jardas (praticamente o campo todo), retornando para touchdown. Isso aconteceu faltando menos de 30 segundos para o final do quarto. Uma das jogadas mais sensacionais de toda a história do Superbowl. Final da primeira metade do jogo. Steelers vencendo por 17 a 7. Seria o fim do sonho dos Cardinals?

A fantástica corrida de Harrison para o touchdown no final do
segundo quarto
(fonte: Sports Illustrated)

Segundo a tradição, sempre tem um show de grande porte no intervalo do Superbowl. O escolhido para esse ano não poderia ter sido melhor: Bruce Springsteen (aqui no Brasil sem dúvida iam chamar Babado Novo, argh!), também conhecido como The Boss, um dos artistas mais queridos pelo público norte-americano (um dos meus favoritos também), acompanhado pela lendária E-Street Band. Antes do jogo especulava-se qual seriam as quatro músicas que ele tocaria, uma vez que, por contrato, elas não poderiam ser divulgadas antecipadamente. Foram divulgados quatro listas diferentes de repertório para que não vazasse. Eram grandes as apostas de que "Glory Days" seria uma delas. O palco foi montado ao centro do gramado do estádio Raymond James em incríveis 8 minutos (isso mesmo, foi montado na hora), e os felizardos com ingresso VIP puderam descer ao gramado para assistir de perto.

O show do intervalo, Mr. Bruce Springsteen
(fonte: Sports Illustrated)

Mostrando uma grande presença de palco, Bruce Springsteen levou à loucura os presentes ao Raymond James. Ele subia no piano, andava pra lá e pra cá na passarela cumprimentando e apertando as mãos de todo mundo. A primeira música foi "Tenth-Avenue Freeze Out", do álbum Born To Run, seguida pela faixa-título do mesmo álbum. Dois clássicos absolutos na sequência. Em seguida, como estava lançando um álbum novo, The Boss apresentou uma música desse novo trabalho, chamada "Working On A Dream", que ele tocou inclusive na posse do presidente Barrack Obama, com direto a um coral gospel composto por vários jovens no refrão. E para finalizar, a música que todos esperavam. "Glory Days" fez o Raymond James vir abaixo. Bruce ainda se permitiu uma licença poética, homenageando a final do Superbowl ao alterar a letra da música, cantando "I had a friend was a big football player" ao invés de "I had a friend was a big baseball player". Um grande encerramento para 12 minutos (um pouquinho mais, vai) de apresentação. O palco desmontado de modo eficiente e as pessoas retornaram ordenadamente para as arquibancadas, enquanto o gramado permanecia perfeito.

"The Boss" Bruce Springsteen destruindo tudo no intervalo
(fonte: Sports Illustrated)

Terceiro quarto de jogo, os Cardinals bem que tentam encaixar suas jogadas ofensivas, mas cometem uma quantidade absurda de faltas, dando várias jardas de graça para os Steelers. Por algum milagre divino, a equipe de Pittsburgh conseguiu apenas três pontos, com um field goal de 21 jardas batido por Jeff Road. A vantagem aumentava para 20 a 7. Mas os últimos 15 minutos de jogo trariam emoções que o mais fanático torcedor de futebol americano poderia imaginar.

Larry Fitzgerald faz uma recepção monstro para seu
primeiro touchdown
(fonte: Sports Illustrated)

No último quarto, Kurt Warner mostrou que não veio a campo para ser coadjuvante, e do alto de seus 37 anos comandou uma virada sensacional dos Cardinals. Logo de cara, aproveitando o jogo corrido de Edgerrin James, ele coloca o time na porta da end zone dos Steelers. O touchdown veio a seguir, com um chuveirinho para James Fitzgerald dentro da end-zone, diminuindo a vantagem dos Steelers para 20 a 14.

Larry Fitzgerald corre pelo meio para virar o jogo para os Cardinals
(fonte: Sports Illustrated)

Depois, tivemos um punt incrível, que deixou a bola na marca de uma jarda da end zone do Pittsburgh. Big Ben consegue uma jogada sensacional para Santonio Holmes para tirar os Steelers do buraco, mas seu esforço foi em vão, porque a linha ofensiva do time cometeu uma uma falta dentro da própria end zone. Safety a favor dos Cardinals, que ganharam dois pontos e a posse de bola. Larry Fitzgerald recebe um passe de 64 jardas de Kurt Warner e avança pelo meio do campo. A defesa bem que tentou chegar, mas era tarde demais. Os Cardinals conseguiram virar o jogo para 23 a 20, faltando pouco menos de três minutos para o final. Quem foi o animal que deixou ele desmarcado nesse momento do jogo?

Big Ben tirando coelho da cartola para fazer seus passes
(fonte: Sports Illustrated)

Parecia que teríamos uma grande zebra nesse ano de Superbowl. Mas o Steelers ainda contavam com Big Ben para fazer mais um milagre. Ele encontrou Santonio Holmes livre para correr 40 jardas e deixar o time a cinco jardas de um touchdown. Big Ben fez uma jogada fantástica para Santonio Holmes, que conseguiu a façanha de deixar a bola passar pelo meio de suas mãos mesmo estando livre. Mas na seguinte, Big Ben arrumou um passe alto para o mesmo Santonio Holmes no canto da end zone, quase saindo do campo, fazendo a bola passar por cima de três defensores. Touchdown marcado e o Steelers volta a liderar. Restando ainda 35 segundos para tentar alguma coisa, o Arizona Cardinals não conseguiu fazer mais nada.

Santonio Holmes dessa vez não deixa a bola escapar
(fonte: Sports Illustrated)

Final de uma das partidas mais emocionantes da história do Superbowl. O Pittsburgh Steelers, para alegria de seus fanáticos torcedores, era o campeão do Superbowl XLIII, que teve uma audiência de nada menos que 97 milhões de espectadores apenas nos Estados Unidos, e reina absoluto como o maior vencedor, com nada menos que seis títulos de campeonato.

Big Ben levanta o troféu! O Pittsburgh é campeão mais uma vez
(fonte: Sports Illustrated)

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